A imagem de produtora de bens baratos fortemente associada à China está mudando. Hoje o país assume o posto de grande potência de comércio exterior e a 2ª maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA, com multinacionais de tecnologia, automóveis, petrolíferas, dentre outras empresas que vêm se desenvolvendo e ganhando espaço cada vez mais forte na economia internacional.
Além do crescimento econômico, a China vive uma ampliação do acesso tecnológico pela população, que passou de 10% de conectados à internet para 53% em apenas 10 anos! Com esse crescimento, veio também o aumento do comércio eletrônico. Segundo dados do Guia de Pagamentos na China da Adyen, até 2020, o e-commerce chinês deve movimentar mais de 1,7 trilhões de dólares. Com tantas modificações no poder de compra, o que mudou também foi a forma como chineses lidam com o dinheiro.
A China, devido ao comunismo, manteve sua economia fechada até 1978. Depois de privatizações e investimentos em ciência e tecnologia, abriu-se para o capital estrangeiro e comércio exterior. Mas, somente a partir do ano 2000, o seu crescimento econômico ganhou força, quando o país foi incluído na Organização Mundial do Comércio e adotou o modelo de socialismo de mercado.
A população chinesa começou a ter um poder de compra maior, ao mesmo tempo em que aprendia a se conectar à internet. Junto às dificuldades regulatórias do setor financeiro do país, devido ao modelo político-econômico, essa realidade fez com que os chineses nem passassem pela etapa dos cartões de débito e crédito: das notas de yuan guardadas em casa, foram diretamente para o sistema de pagamento totalmente digital, através de QR codes ou transferência de dinheiro virtual por smartphones.
Segundo dados do “Global Payment Methods”, também da Adyen, hoje, 70% da população chinesa economicamente ativa recorre às carteiras digitais como principal meio de pagamento. Um exemplo é o app WeChat, um dos casos mais bem-sucedidos do país em investimento em novas tecnologias e, juntamente com o Alipay, uma das maiores carteiras digitais da China.
Foram cerca de 3 trilhões de dólares em transações em 2016 através das maiores carteiras digitais do país. E elas não comandam apenas as movimentações digitais, mas também o varejo e os serviços presenciais. As transações digitais fazem parte também da rotina de pequenos comerciantes, que vão desde barracas de comida de rua, feirantes e máquinas automatizadas a garçons que vestem QR codes em seus uniformes para receberem gorjetas. Até os pais passaram a dar mesada para filhos em suas contas no Alipay ou no WeChat.
E este quadro chinês começa a ganhar o mundo através do turismo. Em 2017, foram 120 milhões de chineses viajando, com gastos que somam 258 bilhões de dólares! De acordo com a Organização Mundial do Turismo, os chineses foram os que mais investiram em viagens no ano passado. O resultado foi um aumento de 62%, entre o primeiro trimestre de 2017 e de 2018, do número de empresas que aceitam carteiras digitais chinesas fora da China, segundo dados da Adyen.
Será o fim do dinheiro físico?
A nova forma de lidar com o dinheiro liderada pela China reflete a maneira como a sociedade tem vivido. Os consumidores estão mais exigentes e querem mais praticidade e segurança, o que exige constantes aprimoramentos tecnológicos por parte das empresas. São eles que estão ditando as formas de pagamentos, não as empresas. Elas precisam adaptar seus negócios para atender melhor os desejos do consumidor e estar presentes nos meios em que preferirem pagar.
No Brasil, os métodos de pagamento mais adotados ainda são os cartões de crédito e o boleto bancário, conforme dados da Adyen. As carteiras digitais (como Google Pay, Apple Pay e Samsung Pay) começam, aos poucos, a ganhar mais usuários ano a ano.
Segundo analistas de mercado, a entrada das carteiras digitais, apesar de toda a praticidade e segurança, não significará o fim do dinheiro físico. Ele continuará a existir, principalmente para atender populações carentes, sem acesso a contas bancárias e/ou dispositivos tecnológicos, mas em quantidades muito menores. A consultoria Euromonitor projeta que 725 bilhões de dólares deixem de ser movimentados via dinheiro impresso no mundo até 2022.
No Brasil, em 2017, o número de transações por cartão teve um aumento de 5,5% contra 4% de alta nas transações em dinheiro. Além da China, países como a Holanda já têm mais transações por cartões ou dispositivos móveis do que por dinheiro desde 2015. Em junho de 2018, apenas 41,4% das transações foram em cédulas. Além disso, 40% dos pagamentos com cartão de débito foram não presenciais, mas por meio de carteiras digitais.
Diante desse cenário, para o e-commerce, o desafio será a eficiência com que é possível prever as necessidades do mercado e adotar rapidamente as tecnologias mais avançadas de pagamentos, que incluam insights de dados de toda a cadeia de pagamentos em escala global e serviços desenvolvidos para as características das transações de cada mercado, sejam elas em papel, plástico ou digitais.
Referências:
https://oglobo.globo.com/economia/aplicativo-popular-na-china-torna-dinheiro-obsoleto-22337244